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Mais da metade dos usuários que não têm plano de saúde já foi beneficiária no passado

Mais da metade dos usuários que não têm plano de saúde já foi beneficiária no passado

Pesquisa confirma que mensalidades altas e desemprego são os principais motivos que afastam usuários da rede privada.

Uma semana após a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciar reajuste máximo de 7,35% para planos individuais ou familiares , mais que o dobro da inflação em 12 meses, pesquisa realizada pelo Ibope a pedido do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), ligado às empresas do setor, confirma que o preço é a principal barreira de acesso dos brasileiros à saúde suplementar. Entre 3.200 pessoas ouvidas em oito regiões metropolitanas, incluindo Rio e São Paulo, 77% apontaram as mensalidades como impedimento para ter um plano. A pesquisa também mostra que a fatia de quem já teve o benefício e perdeu é crescente. Entre os que não têm convênio, 54% já tiveram. Em 2015, eram 45%.

As operadoras pressionam governo e Congresso por mudanças nas exigências da ANS para vender planos mais baratos . Há duas semanas o colunista do GLOBO Elio Gaspari revelou que empresas do setor formularam uma proposta de projeto de lei para alterar a regulação e permitir planos individuais com cobertura limitada, excluindo doenças graves, por exemplo. Especialistas em saúde e em direitos do consumidor alertam para os riscos de usuários ficarem desassistidos quando mais precisam.

Gestão dos planos

Entre os entrevistados pelo Ibope, 35% disseram ter plano. Desses, quase metade (46%) tem carteira assinada e dois terços estão concentrados na classe A e B. Já o restante, que só pode contar com o SUS, tem 73% do contingente nas classes C, D e E. Entre 2014 e 2018, com o alto desemprego provocado pela recessão, o setor perdeu mais de 3 milhões de usuários, segundo dados da ANS. Em maio deste ano, eram 47,2 milhões.

José Cechin, superintendente do IESS, reconhece que o plano de saúde é caro, considerando a renda média de faixas sociais ou grupos etários específicos, como o de idosos. Ele defende a revisão da legislação para flexibilizar planos, mas admite que não é a única solução:

- Com a crise, houve perda do emprego e da renda no país. Mas o produto tem um custo, que tem de ser pago. É preciso equacionar os impulsionadores do aumento dos custos, incluindo toda a cadeia: operadoras, fornecedores, profissionais e beneficiários. Se não frear o custo, o preço sobe. O preço precisa ser regulado? As tentativas de controle de preços recentes em diversos setores fracassaram.

A recente mudança na regra de portabilidade, que permite a migração do beneficiário de planos empresariais para outros coletivos ou individuais sem cumprir nova carência, favoreceu maior competitividade no setor, mas não resultou em queda nos preços. A pesquisa sugere que mudanças na gestão dos planos, com atendimento ancorado em clínicos de família e programas de prevenção, estão reduzindo custos das empresas com menos atendimentos de urgência e exames por pessoa, mas o impacto ainda não chegou ao bolso de quem paga as mensalidades.

Para a professora da UFRJ Ligia Bahia, médica e especialista em saúde pública, as margens de lucro das empresas estão descoladas da renda do brasileiro:

- As operadoras têm de baixar o preço ao patamar de um país de renda média, como é o Brasil. É possível reduzir preço sem reduzir a cobertura alcançando mais pessoas, focando, por exemplo, em atendimento integral.

A advogada Ana Carolina Navarrete, pesquisadora em saúde do Idec, concorda. Ela argumenta que o panorama regulatório não impede a oferta de planos de saúde com mensalidades mais baixas:
- Defender a desregulamentação em razão da perda de capacidade de pagamento das mensalidades por usuários e empresas não está correto. Caiu o número de beneficiários, mas a arrecadação das empresas subiu. É preciso contar com mecanismos regulatórios que impeçam as operadoras de repassar ao consumidor o risco do negócio.

MERCADO LIMITADO

Mensalidades altas e desemprego afastam brasileiros da saúde privada, segundo pesquisa que ouviu 3.200 pessoas em oito regiões metropolitanas.

A advogada teme que um eventual sinal verde para coberturas reduzidas resulte em planos sem real proteção da saúde do consumidor, deixando os casos graves para a rede pública:

- O plano transfere o risco do adoecimento para terceiros. Isso traria a impossibilidade de um negócio justo. Não pode ter plano com internação sem incluir UTI ou consulta sem exame. A lei atual já permite modulação, com planos só para consultas e exames, com 12 horas de internação; ou só hospitalar, com internação em enfermaria ou quarto individual, podendo incluir ou não obstetrícia.

Reinaldo Scheibe, presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), sustenta que a oferta de produtos de cobertura regional ou restrita a consultas e exames ajudaria a levar o serviço ao interior do país.

- A exigência de cobertura, hoje, inviabiliza ter planos fora dos grandes centros urbanos ? diz. ? Tudo o que o governo regula resulta em um produto mais caro, menos acessível e excludente. Os planos ficaram tão caros que há queda no número de beneficiários e de operadoras. As pessoas querem ter o produto pelo qual podem pagar. Há críticas de que queremos fazer plano barato e empurrar as demandas de alta complexidade para o SUS. Mas, mesmo na saúde privada, ninguém perde o direito de atendimento na rede pública.

A FenaSaúde, que reúne 16 grandes operadoras do país, também defende a mudança na lei, flexibilizando a modelagem dos planos:

- É importante enfatizar que essas mudanças na regulamentação visam a dar acesso aos milhões de usuários que hoje só contam com o SUS. Oferecer alternativas de acesso à saúde privada não pode ser considerada uma medida contra o consumidor. Ao contrário, essa mudança beneficiará a sociedade como um todo, desonerando o SUS ? pondera Vera Valente, diretora executiva da entidade.

Íntegra:
https://idec.org.br/idec-na-imprensa/mais-da-metade-dos-usuarios-que-nao-tem-plano-de-saude-ja-foi-beneficiaria-no


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